O fim da era dos shoppings? Isso está longe de acontecer no Brasil (e as ações comemoram)

Em um cenário de forte volatilidade e de incerteza econômica, as ações de shoppings são vistas como um porto seguro, apontam analistas
SÃO PAULO – Nos Estados Unidos, há uma grande discussão e até previsões sobre a possível “morte” dos shopping centers no país. De acordo com estimativas do Credit Suisse, um quarto dos shoppings americanos devem ser fechados até 2022.
Se o cenário parece ser difícil no setor para a maior economia do mundo, o ambiente é bastante diferente no Brasil. Pelo menos é o que indicou o primeiro resultado do setor na temporada, que prenuncia uma temporada bastante positiva para as empresas do segmento.

Quem iniciou a temporada de balanços foi a Multiplan (MULT3), que revelou seus números no último dia 27, considerados bastante fortes pelo mercado e que levaram as ações a subirem mais de 4% logo depois do resultado. No ano, as ações sobem 24%, mais do que o dobro do Ibovespa.
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Conforme destacou o BTG Pactual, o balanço da companhia, que viu seu lucro subir 5,9% na base de comparação anual, para R$ 104,5 milhões, veio muito forte e acima das expectativas em todas as linhas. A receita líquida totalizou R$ 284 milhões (alta de 5% na base anual), enquanto o Ebitda ajustado veio em R$ 212 milhões (alta de 14% na base anual) e a margem veio forte, refletindo controle de custo e despesa menor.
Os analistas do banco, por sinal, estiveram com a gestão da empresa para discutir as perspectivas da empresa e da indústria. A companhia manteve uma visão positiva para o futuro, apontando que os resultados do segundo trimestre melhoraram em todas as categorias. E, mais importante, as vendas de julho cresceram 9,5% na base de comparação anual.
“Embora seja difícil prever como serão as vendas no futuro – e a companhia é sempre conservadora -, a empresa disse que pode começar a reduzir os descontos no segundo semestre deste ano se esse cenário positivo continuar”, apontam os analistas. Além disso, ressaltam, a competição com o e-commerce não preocupa tanto.
E o fato do e-commerce não ser uma grande ameaça para os shoppings é um dos fatores para a manutenção de uma visão positiva para o setor, conforme ressaltou o Bradesco BBI em relatório do final do mês passado, em que também fez uma prévia para o setor. Os analistas do banco destacaram que as ações de shoppings seguem sendo uma boa opção mesmo em um cenário de alta volatilidade no mercado e de incerteza na economia. Isso porque o segmento não depende do crescimento de receitas para gerar um forte crescimento do resultado final. “O principal motivo para a visão positiva é a taxa básica de juros. Como a Selic deve continuar caindo, os resultados das operadoras também continuarão captando os benefícios, em virtude de despesas financeiras menores”, aponta o banco.
Vantagens comparativas
Além disso, os analistas do Bradesco BBI ressaltam: os shoppings continuam a ter uma forte vantagem comparativa em relação a outros canais de varejo. Isso por conta de i) problemas de segurança nas principais cidades, que favorecem os shoppings em detrimento às lojas de rua, mais vulneráveis; ii) o fato do Brasil ser um País de proporções continentais, com um regime tributário burocrático e infraestrutura inadequada, o que representa grandes barreiras para empresas online.
A preferência dos analistas do banco é pela Iguatemi (IGTA3). que divulgará os seus números no próximo dia 8, após o fechamento do mercado, além de manter visão bastante positiva sobre a BR Malls (BRML3), que divulgará seu balanço no dia 14. “Vemos as duas empresas como boas opções para oferecer um crescimento forte de resultados, sem necessariamente confiar em uma melhor atividade econômica”, afirmam. Em 2017, o Iguatemi avança 43%, enquanto os ativos da BR Malls avançam 30%.
Sobre a BR Malls, o otimismo é maior após a empresa mudar a sua estratégia e adotar uma abordagem financeira mais conservadora, justamente com uma estratégia de longo prazo mais sustentável. A companhia, apontam, está bem posicionada para reforçar o seu portfólio, focando mais em qualidade e localização ao invés de crescimento. Já para a Iguatemi, o Bradesco BBI destaca que a companhia deve apresentar um ciclo de fortes resultados, suportado pelo ciclo de afrouxamento monetário e ativos de qualidade.
Desta forma, mesmo em meio a tantas incertezas sobre a recuperação da economia brasileira, outros fatores, como a queda da Selic, além dos fatores específicos do Brasil, devem guiar mais um trimestre positivo para os shopping centers.

Fonte: Infomoney.